Conheci a Chapada dos Guimarães no final da década de 80. Impossível não se encantar com aquele paradisíaco lugar. O encanto intensificou alguns anos mais tarde quando fui morar em Cuiabá e pude conhecer melhor a Chapada.
Conheci a famosa Salgadeira, Véu da Noiva, Casa de Pedra, Paredão do Eco, Cidade de Pedra, o imponente Morro de São Jerônimo, o Circuito das Cachoeiras, Portão de Inferno, entre tantos lugares encantadores.
Tive o privilégio de fazer um camping selvagem no local, de me banhar em uma de suas piscinas naturais de águas cristalinas, descer de rapel uma de suas imensas cachoeiras e o Centro Geodésico da América Latina (mirante), além de escalar o Morro de São Jerônimo.
Após retornar para o Estado de São Paulo, visitei a Chapada dos Guimarães por várias vezes mas a cada retorno o cenário era pior.
Criado na década de 80, a presença do Estado nunca foi muito marcante na Chapada mas ao que parecia havia um certo equilíbrio que garantia a sustentação do local, onde a presença de pequenas lanchonetes garantia a manutenção de muitos locais no parque.
Mais tarde, a investida no IBAMA no local mostrou-se catastrófica. A maioria das estradas que dava acesso a diferentes pontos do Parque foram fechadas, com a promessa de que seria colocado um “trenzinho” fazendo o acesso a estas áreas. Segurei-me muito pra não rir.
Como era de esperar, o prometido trenzinho nunca chegou a circular no parque e a grande maioria dos atrativos ficou no isolamento. Tudo ficou há horas de caminhada e cujo acesso ficou inviável ante a proibição de acampar no parque.
As pequenas lanchonetes estrategicamente instaladas, que faziam a manutenção do local foram retiradas, dando lugar á omissão do estado para a devida manutenção. O resultado foi desolador.
Sem a manutenção que vinha sendo propiciada pelos pequenos empreendedores, e com a omissão do Estado, a Chapada ia de mal a pior.
Para conturbar ainda mais o quadro que já não era bom, as estradas que davam acesso ao parque e que foram interditadas pelo IBAMA, acabaram sendo tomadas pela mata impedindo, inclusive que o poder público intervisse para acabar com focos de incêndio.
O isolamento trouxe mais: muitas áreas acabaram sendo invadidas. Há bem pouco tempo, tudo o que restava na Chapada era a salgadeira – local muito visitado mas com poucos atrativos.
Recentemente, a salgadeira também foi interditada. O que resta da Chapada hoje? Infelizmente, um grande potencial turístico perdido.
Uma natureza talvez preservada (digo talvez, pois fica difícil dimensionar o estrago causado pelas invasões bem como pelos constantes focos de incêndio) mas longe das pessoas que, pela convivência, aprenderiam a preservar.
Sobre o autor
Osvaldo Sereia é licenciado e bacharel em Geografia, bacharel e pós graduado em Direito, Técnico em Eletrônica. Ex-professor, atualmente é Técnico Judiciário, atuando no Judiciário Federal.